Venda de íris no Brasil foi suspensa pelo governo; 500 mil receberam dinheiro para escanear olhos

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A iniciativa World, que registra a íris dos humanos para servir como uma “impressão digital” avançada, tem como objetivo diferenciar pessoas de robôs cada vez mais sofisticados. Contudo, para muitos residentes de São Paulo, uma das cidades onde o projeto está presente, ter o olho fotografado era uma maneira de ganhar um extra: cerca de R$ 600 em criptomoedas (com base na cotação de sexta-feira, 24).

Entretanto, a partir deste sábado (25), o projeto não poderá mais remunerar os participantes, conforme decisão da Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) divulgada um dia antes. A ANPD é responsável por garantir o cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

A ANPD argumenta que a remuneração “pode interferir na livre manifestação de vontade dos indivíduos”, especialmente em casos onde há vulnerabilidade financeira.

Os registros de íris em São Paulo aumentaram significativamente desde o fim do ano. Inicialmente focado em áreas nobres, como Itaim Bibi e Jardins, o escaneamento agora abrange bairros como Brasilândia, Cidade Dutra e Cidade Líder, de renda mais baixa.

Até o momento, São Paulo é a única cidade brasileira envolvida, mas a World planeja expandir para outras regiões do país em breve, conforme informou Rodrigo Tozzi, gerente de operações da Tools for Humanity.

A divulgação boca a boca e nas redes sociais acelerou a adesão, com muitas postagens sobre a “venda de uma foto da íris”, especialmente no TikTok. A contagem de participantes parou em “mais de 400 mil pessoas” há 10 dias e não foi mais atualizada pela World. Eram 115 mil no início de novembro passado, quando o projeto foi retomado após uma fase de testes em 2023.

O projeto cresceu rapidamente, com novos pontos de escaneamento aumentando de 10 unidades em novembro para 51 na última sexta-feira. A localização estratégica dos pontos facilitou a adesão, com unidades próximas a estações de metrô, trem e terminais de ônibus, expandindo para os extremos da cidade.

Segundo Tozzi, a ideia é criar uma ferramenta para toda a humanidade, sem se limitar às áreas nobres da cidade. O crescimento do projeto chamou a atenção da ANPD, que já havia solicitado explicações sobre o procedimento.

Na União Europeia, a autoridade de proteção de dados da Baviera, na Alemanha, determinou a exclusão dos dados em todo o bloco, embora a World afirme que não mantém os registros das íris, que são codificados, fracionados e guardados por parceiros, incluindo universidades estrangeiras.

bloqueio da ANPD

A ANPD determinou que a Tools for Humanity (TFH) deve parar de oferecer compensação financeira em troca da coleta de íris de brasileiros. A TFH foi cofundada pelo CEO da OpenAI, Sam Altman, e levou o projeto WorldID ao Brasil em novembro de 2024, prometendo escanear a íris da população para desenvolver um sistema único de verificação humana.

A ANPD considera que a concessão de criptomoedas e compensação financeira em troca de dados pessoais viola a LGPD, pois “pode interferir na livre manifestação de vontade dos indivíduos”, especialmente em casos de vulnerabilidade. A ANPD também destacou que o tratamento de dados pela TFH é “particularmente grave” devido à impossibilidade de excluir os dados biométricos coletados, e vê risco de uso das informações para fins não inicialmente informados. A medida entra em vigor neste sábado, 25 de janeiro.

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