Aliança PT-PDT nos municípios pacifica relação dos partidos no CE

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A construção de alianças entre PT e PDT em muitos municípios cearenses nas eleições deste ano vem distensionando a relação dos dois partidos no Estado, que acabou estremecida pelas turbulências entre suas maiores lideranças: o ex-presidente Lula e o ex-ministro Ciro Gomes. O governador Camilo Santana é apontado como um dos principais fiadores desse clima de pacificação, que pode ter reflexos na disputa em Fortaleza, ainda que PT e PDT estejam em palanques diferentes.

As eleições presidenciais de 2018 com a candidatura de Fernando Haddad, do PT, e de Ciro Gomes, do PDT, colocou os dois partidos, que pertencem ao mesmo espectro político, em lados opostos. Além disso, críticas foram feitas ao grupo político de um e de outro e no segundo turno a ausência de Ciro na campanha de Haddad marcou muito a relação.

De lá para cá, Ciro e Lula continuaram trocando farpas, a disputa pelo protagonismo no campo da esquerda ficou ainda mais em evidência, já de olho nas eleições de 2022, entretanto, apesar dessa tensão que em algum momento mexe com lideranças locais, ela não é suficiente para ameaçar a aliança do PT e PDT no Ceará, berço político dos irmãos Cid e Ciro Gomes.

Dobradinhas

Ao contrário, apesar das diferenças políticas, a aliança dos partidos a nível estadual tem se fortalecido para as eleições deste ano. Em vários municípios cearenses, PT e PDT estarão unidos na mesma chapa. Semanalmente, o senador Cid Gomes, o deputado federal José Guimarães, vice-presidente nacional do PT, e o governador Camilo Santana tem se reunido para tratar dos cenários eleitorais, numa demonstração de que o diálogo permanece.

Segundo uma liderança petista, há uma pacificação nos colégios eleitorais, com a construção de dobradinhas. Em pelo menos 21 municípios cearenses ou o PT apoia o PDT ou ocorre o inverso e a articulação em alguns locais estratégicos tem sinalizado a disposição de resolver divergências.

Por exemplo, no Crato, na Região do Cariri, o candidato a vice do prefeito Zé Ailton Brasil, que é do PT, será André Barreto, do PDT, que já é o atual vice do gestor. No município vizinho, Barbalha, os dois partidos também estarão juntos, só que lá é o PDT que encabeçará a chapa. A sigla pedetista lançou o médico Guilherme Saraiva à Prefeitura e o PT indicou o vice da sua chapa: vereador Vevé.

Em Juazeiro do Norte, a expectativa é de que PT e PDT estejam juntos na mesma coligação do prefeito Arnon Bezerra (PTB), que deverá disputar a reeleição. O PT, por enquanto, tem um pré-candidato à Prefeitura de lá, Gabriel Santana, mas a tendência é o partido apoiar o atual prefeito, assim como o PDT.

Itapipoca é outro município com a aliança PT-PDT. Lá, o PT vai lançar o ex-superintendente adjunto da Superintendência de Obras Públicas (SOP), Felipe Pinheiro, e o PDT apoiá-lo. Iguatu a dobrada é o inverso. Um dos candidatos à Prefeitura será o deputado estadual Marcos Sobreira e o PT deve indicar o candidato a vice dele.

Em Ibiapina, o PT também vai apoiar o prefeito Leandro Linhares, do PDT, na disputa à reeleição. Outro município que vai ter dobradinha dos dois partidos é Quixadá. Lá, o atual prefeito Ilário Marques, que é do PT, vai buscar a reeleição e o seu candidato a vice já foi fechado, será o ex-vereador Pedro Baquit, do PDT. Ele é sobrinho do deputado estadual Osmar Baquit, outro pedetista.

“A relação é ótima em muitos municípios, diria que em 90% deles. Quando a gente cita Camilo e Cid como líderes maiores, na realidade, os políticos da base do governo tem muito respeito pelos dois, então isso pacifica (a relação)”.

Outros municípios que o PT vai apoiar o PDT, são: Alcântaras, Banabuiú, Caridade, Caririaçu, Cedro, Deputado Irapuan Pinheiro, Farias Brito, Hidrolândia, Independência, Itaiçaba, Milagres, Monsenhor Tabosa, Mucambo, Paramoti, Pedra Branca, Redenção, São Benedito, Sobral, Tururu e Varjota. Já o PDT deve apoiar o PT também em Ipaporanga, Quixeré e Umari.

O presidente do PDT no Ceará, deputado federal André Figueiredo, nega que exista uma relação conflituosa com o PT no âmbito estadual, apesar das divergências. “Uma dose de conflitos existe a nível nacional, com diferenças de avaliações que são explicitadas por algumas das lideranças de ambos os partidos, mas temos um bom diálogo. Aqui no Ceará, na grande maioria dos municípios temos uma parceria e vamos tentar construir no máximo (de municípios) possível”.

Fortaleza

Um acordo entre os partidos também envolve a Região Metropolitana de Fortaleza. O caso que chama mais atenção da relação PT-PDT é o de Caucaia. Lá, o PDT faz parte da base aliada do prefeito Naumi Amorim (PSD) e vai estar oficialmente na coligação dele, na disputa pela reeleição. Mas, ao mesmo tempo, Ciro Gomes anunciou apoio ao pré-candidato do PT à Prefeitura de Caucaia, Elmano de Freitas. E mais, Cid articulou a ida do PP para a chapa do petista e a indicação da vereadora Natécia Campos, do partido, para ser sua vice.

O movimento é visto como gesto importante de Cid e Ciro para as discussões de uma aliança PT-PDT em Fortaleza, onde os obstáculos entre os dois partidos são maiores. Primeiro que o PT lançou a deputada federal Luziannne Lins como pré-candidata e ela é desafeto político dos irmãos Ferreira Gomes desde a cisão dos grupos em 2012. Segundo é que o PDT também quer lançar candidato em Fortaleza e ser a cabeça de chapa.

O governador Camilo Santana vem tentando unir os dois partidos em Fortaleza no primeiro turno e tem conversado bastante com Luizianne. Ele tentou colocar o Nelson Martins, ex-assessor do Governo e quadro histórico do PT, como opção para essa união, mas o petista acabou declinando por questões pessoais. Mas a construção das alianças no Ceará ainda pode influenciar o cenário na Capital. O PT mudou a convenção que aconteceria no próximo dia 13 para o dia 15, sinalizando que as articulações seguirão.

O presidente estadual do PT, Antônio Conin, destaca o papel do governador em pacificar a relação e se com o PDT e diz que se não for possível a aliança dos dois partidos no primeiro turno, o caminho foi pavimentado para uma nova discussão no eventual segundo turno.

“Se tem um artífice da retomada do diálogo foi o Camilo. Ele tem ajudado nisso, participa das conversas, o diálogo tem fluido. Esse processo ajudou a dar uma pacificada na relação, não voltou a ser mais o que era, mas distensionou bem. Desde o segundo turno estava tensionado em razão das disputas nacionais. Agora vamos esperar que os personagens se pronunciem (sobre Fortaleza)”.

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