Carla Zambelli na marcha para Jesus

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“Que nós possamos ver essa pandemia repreendida”, disse o apóstolo Estevam Hernandes diante de um mar de carros. Era a Carreata da Solidariedade, que tomou as ruas de São Paulo neste sábado (24) como versão motorizada da Marcha para Jesus.

Pelo segundo ano consecutivo, a crise da Covid-19 forçou Estevam e sua esposa, a bispa Sonia Hernandes, a postergar o ato evangélico idealizado por eles 28 anos atrás.

O trio elétrico com o casal-fundador da Igreja Apostólica Renascer em Cristo saiu por volta das 13h30, seguido por uma caravana de carros e algumas motos e bicicletas, embalado por soul e marchinha gospel que iam por letras como “o nosso general é Cristo”.

A deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) foi exceção política na carreata, que neste ano não convidou oficialmente autoridades, como sempre acontece na Marcha. Com máscara de uma rede de academias, blusa confeccionada pela igreja, a parlamentar transmitiu, por vezes ajoelhada, a pregação de Estevam e Sonia para seus seguidores virtuais.

Vamos profetizar vida, cura, saúde”, pediu a bispa. Seu marido convocou uma oração pela nação (“orgulho do Brasil, sempre”) e citou o salmo 23, “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”.

Quando o veículo passava pelo viaduto Bispo Tid Hernandes, o apóstolo, que permaneceu de máscara na maior parte do trajeto ao ar livre, evocou “um grande mover de salvação sobre esta nação”. Um dos três filhos do casal neopentecostal, Tid morreu em 2016, aos 37 anos. Ficou sete anos hospitalizado por complicações de cirurgia de redução de estômago.

Enquanto atravessava a avenida 23 de Maio, uma das principais da cidade, a bispa Sonia puxava coros como “São Paulo é de Jesus, o Brasil é de Jesus”. Os fiéis mais para trás na fila de automóveis –que ocupava duas das quatro faixas da via– tinham a opção de ouvir pela rádio da igreja, a Gospel FM.

Membros da igreja distribuíam bandeirinhas do Brasil para motoristas e passageiros. Aqui e acolá, uma flâmula de Israel despontava do mar de veículos. A carreata é, nas palavras do apóstolo, um esquenta para a Marcha para Jesus, que sempre ocorre no meio do ano. A pandemia, contudo, empurrou o evento para novembro, isso se ela arrefecer até lá.

Maior evento no calendário evangélico da América Latina, a Marcha costuma atrair políticos, sobretudo em anos eleitorais. Em 2009, o presidente do momento, Lula (PT), sancionou uma lei que institui um Dia Nacional para a Marcha (60 dias após o domingo de Páscoa). Uma década depois, Bolsonaro entrou para a história do evento como o primeiro presidente da República a participar dele. Aclamado pelo público como mito, atribuiu a Deus sua vitória nas urnas: “Foi Ele quem nos deu a Presidência”.

Nesta semana, o apóstolo reafirmou em entrevista à Folha seu apoio ao mandatário que conquistou sete de dez eleitores evangélicos. Fã de motocicletas, Estevam foi na última motociata bolsonarista em São Paulo e continua a acelerar com o chefe do Executivo nacional, um católico casado com a evangélica Michelle em 2013, numa cerimônia celebrada pelo pastor Silas Malafaia.

Se em 2018 o líder religioso disse à reportagem, durante uma Marcha, que o candidato Bolsonaro precisava pregar mais amor e tolerância, três anos depois seu parecer foi outro. “Olha, acho que ele é o presidente da honestidade, que tem muitas propostas importantes para o país. Estamos vivendo a república do ódio, e aí fica muito complicado falar sobre tolerância.”

Hernandes não quis, contudo, cravar que continuará com o presidente na eleição. “Eu obviamente, em termos do presidente, falo para você que só se houver mudança brusca, radical, que me faça mudar de posição. Só que 2022 está muito distante ainda. É um cenário que a gente tem que esperar, observar.”

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