Disputa de egos entre Omar Aziz e Renan põe em risco indiciamentos da CPI

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Divergências entre o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), e o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), colocam dúvidas em relação às sugestões de indiciamento que serão enviadas ao Ministério Público ao fim dos trabalhos.

Os atritos se tornaram públicos neste fim de semana, em razão do vazamento de trechos antes que o grupo majoritário, o chamado “G7” (parlamentares da oposição e independentes críticos ao governo), pudesse debater pontos nos quais há dissenso. O vazamento provocou uma reviravolta na agenda e o adiamento da leitura e da votação do documento.

Genocídio

Um dos temas que puxam a fila de divergências entre Calheiros e Aziz é a atribuição do crime de genocídio. “É do conhecimento do relator que tinha divergência em relação ao genocídio. Então vazou esse relatório sem saber que a gente queria discutir essa questão”, afirmou o presidente da CPI na manhã de hoje em entrevista à “Globo News”.

Aziz também disse, em princípio, contestar sugestões de indiciamento pelo crime de genocídio contra povos indígenas. O senador afirmou que não pode “criar uma narrativa sobre uma coisa que [ele] não tem conhecimento”. Ele lembrou ser oriundo do Amazonas, estado que mais possui etnias no país. “Todos os índios tiveram, sem exceção, duas doses [de vacina].”

O senador amazonense afirmou também que esperava ser convencido em relação a pessoas (ele não citou nomes) que constam entre as recomendações de indiciamento —e que, em tese, ele não concordaria com a atribuição de responsabilidade.

“Eu não vejo razão para indiciar algumas pessoas. Eu vi lá um indiciado e eu não entendi. Eu preciso entender o porquê que aquela pessoa está sendo indiciada. O que ele cometeu, qual foi o crime que ele cometeu para ser indiciado. Eu não vejo. Não vou citar nomes, depois posso falar, mas primeiro que saber o porquê.”

“Quebra de acordo”

O presidente da CPI não escondeu ter ficado furioso com o vazamento de trechos do relatório durante o fim de semana e considerou tal fato como “quebra de um acordo” que os parlamentares haviam feito na última sexta-feira (15). Na ocasião, eles acertaram que as divergências em relação ao texto final seriam debatidos em uma reunião inicialmente marcada para hoje (18) —isto é, antes que o documento se tornasse público.

Humberto Costa (PT-PE) ratificou o clima de mal-estar na CPI e confirmou que os membros do G7 tinham combinado de conversar antes que a imprensa pudesse ter acesso ao relatório. “Lamentavelmente, isso não aconteceu”, ponderou o congressista, ressaltando que a cautela se justificava para “evitar questionamentos legais” em relação ao documento.

Disputa de egos

Além das incongruências em relação aos indiciamentos e tipos penais que constarão no relatório, há também uma disputa de egos entre os principais nomes da cúpula da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Nos bastidores, interlocutores afirmam que Calheiros não teria gostado da divulgação de um relatório à parte feito pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), também membro do G7. E que ele estaria preocupado com uma possível perda de protagonismo em relação ao desfecho da CPI.

Na manhã de hoje, Calheiros buscou minimizar as consequências do vazamento e disse estar aberto às opiniões dos colegas. Na visão dele, o “grande trunfo” do colegiado foi a formação de um grupo majoritário, formado por 7 parlamentares —o que garantiu a prevalência em todas as votações de requerimentos e outros pleitos durante as diligências e oitivas.

O relator disse ainda que lamentava o vazamento de trechos do relatório, mas que, no fim das contas, havia sido algo positivo. “Lamento que tenha vazado, mas achei até bom porque antecipa um debate que era inevitável e insubstituível.”

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