Lula busca unir a Celac para uma resposta firme a Trump

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Na próxima quarta-feira, em Honduras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursará na cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), com o objetivo de reverter a atual fragmentação da América Latina, sem mencionar o chefe de Estado americano e os desafios de suas primeiras ações para a região.

Fontes oficiais brasileiras informam que Lula fará um diagnóstico da conjuntura atual e um apelo à união.
O diagnóstico aponta para uma agenda desfavorável de um líder de fora da região em relação aos países latino-americanos, focada em deportações de imigrantes e medidas comerciais protecionistas. Essa agenda é vista como punitiva e ainda não obteve uma resposta coordenada da região.

Diante da fragilidade da Celac, Lula e seus aliados, como o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que assumirá a presidência pro tempore da organização, buscarão alternativas para superar as profundas divisões.
Uma fonte diplomática brasileira comentou que a agenda de medo imposta globalmente e na América Latina será referenciada nos discursos, mas sem citar nomes específicos.

O Brasil apresentará propostas em Honduras, incluindo a articulação de um nome da região para a secretaria-geral da ONU em 2026. O país também buscará garantir um equilíbrio na renovação dos membros da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), evitando uma maioria de membros conservadores, potencialmente ligados a figuras políticas brasileiras de extrema-direita.

Além de convocar os 33 países da Celac a uma maior integração e unidade em tempos desafiadores, Lula incentivará a participação em iniciativas como a Aliança Global contra a Fome e a COP30, buscando uma voz unificada da América Latina, especialmente dos países amazônicos.

A Celac, criada como um espaço de debate sem a participação dos Estados Unidos, enfrenta o desafio do consenso para aprovar declarações. O principal obstáculo à união é a postura da Argentina, que tem atuado como porta-voz dos EUA desde a posse de seu novo líder.
Juan Tokatlián, professor de Relações Internacionais, explicou que a Argentina vetou uma declaração da Celac contra ameaças de um líder de fora da região ao Panamá, descrevendo o país como o principal bloqueio aos esforços de união da Celac para enfrentar a agenda externa sobre a região. Ele sugere que Brasil e Colômbia buscam reativar a Celac e promover articulações com um grupo menor de países, estratégia já utilizada com sucesso na eleição do novo secretário-geral da OEA.

Outro desafio para a Celac é a possível presença do líder venezuelano, cuja participação ainda é incerta. Caso ele compareça e solicite uma conversa com Lula, fontes oficiais indicam que o presidente brasileiro não poderá negar o diálogo. Analistas em Caracas acreditam que a ida do líder venezuelano a Honduras é improvável devido ao risco de seu avião ser forçado a pousar em países como o Panamá, considerando os pedidos de captura internacional contra ele.

Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV), prevê que a representação venezuelana na cúpula levantará a questão das deportações ilegais, inclusive de venezuelanos para El Salvador, observando que “um líder de fora da região está pressionando a América Latina”.

Negociadores brasileiros admitem a possibilidade de não se alcançar uma declaração final na cúpula da Celac devido à falta de consenso. Além da Argentina, outros países como El Salvador, Paraguai e Equador apresentam divergências em temas como gênero e os objetivos do milênio. A proposta brasileira de uma declaração sobre mulheres, paz e segurança enfrenta dificuldades. Lula aposta em sua capacidade de liderança para superar esses obstáculos.

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