Mulheres podem decidir as eleições em São Carlos
Dos 186.863 mil eleitores de São Carlos, 97.412 mil são mulheres, o que representa 52,1 % dos moradores aptos a votar nas eleições municipais. Quando olhamos para os cargos de poder na política da cidade, entretanto, elas são minoria.
Executivo
Das 19 secretarias da cidade, apenas três são comandadas por mulheres: Glaziela Solfa Marques, na pasta da Cidadania, Helena Antunes comanda a Secretaria de Gestão de Pessoas, e Ingridi Cazella, é a atual secretaria de Transporte e Trânsito.
Para a disputa eleitoral deste ano, somente a Marina Melo (PSD) será candidata à Prefeitura de São Carlos.
Já Rose Mendes (PT) e Maria Aires (PL) vão concorrer ao cargo de vice na chapa de Erick Silva (PT) e Julio Cesar (PL), respectivamente.
Legislativo
Na Câmara Municipal, das 21 cadeiras, apenas duas são ocupadas por mulheres: Cidinha do Oncológico (PP) e Laide da UIPA (PSDB).
Eleições 2020
Para disputa eleitoral deste ano, São Carlos registrou 494 solicitações de candidatura no Tribunal Superior Eleitoral: 159 são mulheres (32%) e 338 são homens (68%).
De acordo com doutoranda em ciência política pela USP e co-idealizadora d’A Tenda, Hannah Maruci, os partidos políticos, historicamente, resistem muito para cumprir as leis que incentivam a participação das mulheres na política. “É sempre uma luta, os partidos sempre acham brechas para cumprir da pior forma possível e manter o status quo de homens eleitos, brancos, mais velhos, heterossexuais. A diversidade é muito comprometida por causa disso”.
Ela explicou ainda que muitos partidos acabam realizando manobras para usar o dinheiro que, obrigatoriamente, deveria ser destinado para candidaturas femininas, na campanha dos homens. “Em São Carlos a gente vê duas mulheres no lugar de vice. Desde 2018, quando foi instituído que 30% do financiamento de campanha deveria ser destinado para candidaturas femininas, a gente viu muito isso acontecer. É uma chapa, que o cabeça de chapa é homem e a vice é mulher. Então, quando se direciona dinheiro pra essa chapa, direciona-se pra conta da vice e entra na cota de mulheres. A gente não pode afirmar que todos os casos são isso, claro, porque é bom que a gente tenha vice mulheres, é um lugar de prestígio, isso dá visibilidade. Mas quando a gente vê uma proliferação de mulheres ocupando, predominantemente, o lugar de vice, e não de cabeça de chapa, a gente entende que existe uma manobra do partido pra colocar as mulheres na chapa. Então, o que acontece na prática: o dinheiro que é colocado, e aparece na prestação de contas como um dinheiro direcionado a candidaturas femininas, na verdade está beneficiando e financiando uma candidatura cuja a cabeça de chapa é masculina. E isso é um problema”, afirmou.
Barreiras sociais
Apesar de as mulheres serem a maioria do eleitorado na cidade, a cientista política explica que existem algumas barreiras que travam a participação política das mulheres. “Existem inúmeras barreiras para participação política das mulheres e para a eleição delas. Então eu diria que tem barreiras sociais e tem barreiras institucionais. Quais são as barreiras sociais? Os estereótipos de gênero. É aquilo que a gente espera de cada um dos gêneros, as características que são entendidas como corretas para cada um dos gêneros, ou seja, quando a gente fala em uma mulher, a gente espera que ela seja compreensiva, não assertiva, não seja conflituosa. Um homem, por outro lado, a gente espera que ele seja assertivo, decidido, que ele se coloque publicamente, que ele coloque suas opiniões. Todas essas características que a gente espera dos homens, são justamente todas as características que são boas para a política”.
“Então, ao difundir essa ideia de que mulheres tem que ser de um jeito e homens de outro, a gente acaba também difundindo a ideia de que política não é para mulher, o que é falso”, complementou Maruci.
A cientista política disse que a segunda barreira social é o próprio eleitorado que, dentro de uma estrutura machista, entende que a política não é coisa para mulher.
Barreiras institucionais
Após superar as chamadas barreiras sociais, as mulheres precisam lidar com as chamadas barreiras institucionais. “Então a mulher passa essas barreiras sociais, em que dizem que política não é pra ela, que as características dela não são boas pra ocupar a política, e ela se filia a um partido. O que acontece quando uma mulher se filia a um partido? Ela vê que a maioria dos cargos de decisão são ocupados por homens, ela vê que existe uma reprodução para aqueles que estão no poder continuarem no poder, que são quem? Os homens brancos, heterossexuais”, explicou Maruci. A partir de uma análise do baixo número de mulheres em cargos políticos em São Carlos, Maruci concluiu que o eleitorado da cidade não enxerga as mulheres como potenciais representantes. “São Carlos é um município que está abaixo da média nacional em relação a porcentagem de mulheres eleitas. Apesar de a nível nacional a gente ter um índice muito baixo, no Congresso Federal a gente tem 15%, a média nacional nos municípios é cerca de 12%. Em São Carlos a gente vê que as mulheres na Câmara Municipal são pouco mais de 10%. Então, isso seria a primeira coisa a se olhar e a entender também que isso tem a ver com um histórico do eleitorado e da população mais conservadora, mais machista, e que não olha para as mulheres como potenciais representantes”, afirmou.
“Não espere ser convidada”
Única mulher a ocupar a presidência da Câmara Municipal de São Carlos (1º/1/2005 a 31/12/2006), a professora e ex-vereadora por três mandatos, Diana Cury, revelou que sofreu preconceito e enfrentou dificuldades na política são-carlense por ser mulher. “No início, há uns 20 anos, quando surgiu a questão de a mulher fazer parte da cota, a mulher era tida como alguém que não estava preparada, que não estava no lugar certo. Mas isso veio mudando aqui em São Carlos ao longo dos anos. Hoje eu sinto que a mulher é bem vista, é bem recebida na política. Ainda temos preconceito, temos sim, mas ela é bem vista, pelo menos melhor do que antes”, afirmou.