O que o presidente Zelensky quer dizer quando fala sobre neutralidade

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Em uma entrevista no domingo com jornalistas russos, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky falou longamente sobre um ponto importante nas possíveis negociações de paz: a possibilidade de neutralidade para a Ucrânia. 

“Estamos prontos para aceitar isso”, disse Zelensky. “Esse é o ponto mais importante.”  

Zelensky e autoridades ucranianas há muito dizem que estão dispostos a falar sobre neutralidade para a Ucrânia se a Otan não estiver pronta para aceitar o país como membro da aliança. 

Isso, em teoria, atenderia a uma das exigências do presidente russo Vladimir Putin: que a Ucrânia desista de suas aspirações à OTAN. 

Mas não é tão simples assim. Zelensky também deixou claro que a Ucrânia rejeitaria a “neutralidade” sem garantias de segurança juridicamente vinculativas. E com a Ucrânia sob invasão da Rússia, o líder ucraniano disse que não está interessado em promessas vazias. 

“Estou interessado em garantir que não seja apenas mais um pedaço de papel à la o Memorando de Budapeste”, disse ele. 

Zelensky estava se referindo a um momento pouco lembrado na história pós-Guerra Fria. Com o colapso da URSS, a Ucrânia – pelo menos no papel – passou a possuir o terceiro maior estoque nuclear do mundo.

A Rússia manteve o controle operacional dessas armas, mas a Ucrânia assinou um acordo em 1994 para desistir das armas nucleares estacionadas em seu território em troca de garantias de segurança, incluindo a proteção da integridade territorial e independência política da Ucrânia  Isso é algo que a Rússia, signatária do Memorando de Budapeste, pisou decisivamente com a anexação da Crimeia em 2014 e a invasão da Ucrânia em fevereiro. 

Mykhailo Podolyak, um conselheiro sênior de Zelensky, disse que as garantias de segurança devem, em essência, incluir um compromisso dos fiadores de ajudar a Ucrânia em caso de agressão.  

E é importante acrescentar que a neutralidade – de um tipo que Putin pode achar palatável – não é algo que Zelensky pode simplesmente oferecer. A aspiração à adesão à OTAN está consagrada na Constituição da Ucrânia. 

Foi aí que Zelensky deu aos entrevistadores russos uma pequena lição sobre os processos democráticos da Ucrânia. As garantias de segurança, explicou ele, teriam que ser seguidas de um referendo na Ucrânia.  

“Por que? Porque temos uma lei sobre referendos”, disse Zelensky. “Já passamos. Mudanças deste ou daquele status… E garantias de segurança pressupõem mudanças constitucionais. Você entende, não é? Mudanças constitucionais”. 

E aí está a diferença. A Rússia tem um sistema político construído em torno de um homem – Putin – e Zelensky é o chefe de um estado democrático. Mesmo que a neutralidade esteja na mesa de negociações, o povo ucraniano terá que dar sua opinião.  

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