Sacrifício financeiro e frustração: como falta de comprometimento minou Pato no São Paulo

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No dia 27 de março de 2019, o São Paulo acertava a contratação de Alexandre Pato e vencia a concorrência dos rivais Palmeiras e Santos, também interessados no jogador à epóca.

A comemoração e a esperança daquele dia foram substituídas por frustração e desapontamento pouco mais de um ano depois do anúncio oficial. Na última quarta-feira, Pato rescindiu com o São Paulo e colocou fim a sua segunda passagem pelo clube.

E o término dessa história pouca gente poderia imaginar se levasse em consideração a forma com que Alexandre Pato retornou ao clube. Depois de sua primeira passagem, em 2014 e 2015, a torcida são-paulina criou uma identidade com Pato e o abraçou. Naquela ocasião ele fez 38 gols em 98 jogos.

O investimento feito pelo São Paulo no jogador, inclusive, era a prova de como havia uma aposta grande no futebol do atacante. Pelo contrato até o fim de 2022, o São Paulo iria desembolsar cerca de R$ 38 milhões. A expectativa com a rescisão é deixar de gastar pelo menos R$ 35 milhões com Pato.

A forma com que Pato se apresentou também encheu o torcedor e a própria diretoria de esperança. A narrativa na ocasião era de que o atacante estava mais maduro, aos 29 anos, querendo mostrar seu valor após frustrações na Europa.

– A minha escolha pelo São Paulo foi por amor. Me receberam de abraços abertos, me abraçaram tão forte que falei que esse abraço me marcou. Minha escolha foi pelo legado que tive, pelo carinho dos torcedores, é um amor que não tenho como explicar. Estou muito feliz pela minha escolha, foi a mais certa que fiz na minha vida. Vou fazer de tudo para que possa devolver aos torcedores na rua, na internet – disse Pato na sua apresentação.

Só que depois de um ano e cinco meses, Pato devolveu muito mais na internet, com postagens e interações com os torcedores, do que dentro de campo.

Abraçado por Diniz

Em abril de 2019, o atacante fez sua estreia contra o Botafogo, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro, sob o comando de Cuca. Logo no jogo seguinte, contra o Goiás, marcou seu primeiro gol no retorno e aumentou ainda mais a expectativa sobre ele.

As atuações seguintes, no entanto, não empolgaram, e Pato viveu altos e baixos devido a diversas mudanças de posições promovidas por Cuca e a sua própria instabilidade. E 14 jogos e cinco gols depois, as lesões viraram outro adversário na vida do jogador.

Nesse meio tempo das lesões, Pato viu Cuca ser demitido e Fernando Diniz contratado, em setembro do ano passado. E o novo treinador se mostrou disposto a ajudar na recuperação do atleta. Em diversas ocasiões, Diniz disse que Alexandre Pato era “jogador de Copa do Mundo”.

– Vou falar o que falei para os jogadores: o Pato era para ter disputado duas Copas e estar indo para a terceira pelo imenso talento que tem – afirmou Diniz, dias depois de ser contratado.

No entanto, o treinador viveu a mesma dificuldade que outros técnicos passaram com o jogador: encontrar uma maneira de ele ficar mais ligado e comprometido.

Em 2019, Diniz utilizou Pato em sete ocasiões e não tirou ele do banco de reservas em outras sete oportunidades. Naquele ano, o jogador não fez nenhum gol com Diniz e terminou a temporada com 22 jogos disputados e cinco gols marcados.

“Fazer de 2020 o melhor da carreira”

Na pré-temporada, Alexandre Pato foi contundente. Ele tinha o desejo de fazer de 2020 o melhor ano de sua carreira. Em uma postagem nas redes sociais ele disse:

– 2020 com certeza será um ano de muito trabalho e dedicação. Vamos em busca dos objetivos e metas traçadas! Quero fazer dele um dos melhores anos da minha carreira! “Não coloque limite em seus sonhos, coloque fé!” – postou.

E realmente o ano apontava para algo diferente assim que a temporada começou. Após iniciar os dois primeiros jogos do Paulistão no banco de reservas, Pato se tornou titular e virou uma das peças-chave do ataque de Fernando Diniz.

Inicialmente atuando pela ponta direita, ele passou a ser o centroavante da equipe e se tornou um dos artilheiros da equipe ao marcar quatro gols seguidos (três pelo Paulistão e um pela Libertadores). Até a parada por conta da pandemia do novo coronavírus, Pato tinha 11 jogos e quatro gols marcados.

A fase era tão em paz com a torcida, que dias antes de voltar a disputar uma partida pelo São Paulo após as paralisações dos torneios, o jogador brincou com o fato de os torcedores terem criado uma superstição de que se ele ficasse careca os gols voltariam a aparecer.

Mas nem o “Pato careca” foi capaz de apagar as más atuações do jogador nos dois jogos disputados no pós-pausa. As derrotas para o Bragantino e para o Mirassol tiveram uma participação apagada do atacante.

Mais do que isso: a comissão técnica e a diretoria são-paulina viram em Pato certa indiferença com a eliminação vexatória nas quartas de final do Paulistão. Diniz ficou desapontado com o jogador.

O episódio foi o estopim para um racha entre Pato, Fernando Diniz e diretoria. Nos dois jogos seguintes do Brasileirão, o atleta não saiu do banco de reservas e viu jogadores como Paulinho Boia, Carneiro e Helinho entrarem na sua frente.

A insatisfação de Pato, aliada com a decepção do clube, estourou em uma separação definitiva. Pato não rendeu o que se esperava pelo alto salário recebido e se viu desprestigiado no clube que disse que tanto ama.

Ele se despede após 35 jogos e nove gols marcados, uma média de 0,25 gol por jogo.

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