Sem acordo para reduzir custos, shoppings perdem mais de 300 lojas em BH

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Segundo associação de lojistas de centros de compras, essa é a estimativa de unidades que foram fechadas porque comerciantes não conseguiram arcar com aluguéis e despesas de manutenção diante da queda das vendas após isolamento social. Tentativa de negociação com empreendedores dos centros de compras foram frustradas

Mais de 300 lojas fecharam as portas definitivamente em shoppings de Belo Horizonte desde o início da pandemia. Esse universo supera a quantidade de pontos de venda que existem em alguns dos maiores centros de compras da capital mineira, a exemplo do Diamond Mall ou o Boulevard Shopping. A estimativa faz parte de um levantamento de dados da Associação de Lojistas de Shopping Center (AloShopping) e sacrifica parte dos cerca de 16 mil empregos que eram mantidos pelo segmento de negócios, com 2.400 unidades antes dos esfeitos da crise sanitária sobre a economia.

Para o superintendente da AloShopping, Alexandre Dolabella França, o cenário negativo das vendas não tem perspectiva de melhora para os próximos meses, tendo em vista que os lojistas não têm conseguido arcar com aluguel e as demais despesas de manutenção das unidades nos shoppings, diante dos efeitos da COVID-19 sobre a economia. “Esse índice de vacância pode subir conforme as decisões dos donos de shopping. Se eles não negociarem com os lojistas de maneira viável, e que permita passar por este tempo difícil, a tendência é esse número só aumentar”, afirmou.

Depois de 25 anos de trabalho diário na loja Sonho Perfeito no Shopping Del Rey, Márcio Pasch, de 63 anos, se emocionou ao fechar, agora pela última vez, a porta da empresa especializada em artigos de cama, mesa e banho. A rede só manterá as lojas de portas para a rua. “Vocês não imaginam a dor que é. É como a perda de um filho”, desabafou o empresário, que teve de repetir o ritual em outra filial, no Minas Shopping. Foram cinco meses sem faturar, por causa das medidas de isolamento social para conter a disseminação do coronavírus. Os prejuízos mensais superaram R$ 30 mil, e Pasch não viu saída para a uma reabertura.

“Os shoppings muitas vezes são irredutíveis. Os empreendedores dos centros de compras não olham para os lojistas como a galinha de ovos de ouro deles. Olham os lucros”, lamentou Márcio Pasch, que tentou negociar alguma redução de aluguel para renovar o contrato de uma das unidades que venceria em novembro, mas não teve sucesso. Ele confessa que não pretende voltar a trabalhar nos grandes centros comerciais, “nem depois que essa pandemia passar”.

Com o fechamento da empresa, as demissões foram inevitáveis. “Cheguei a ter 60 funcionários diretos, hoje nós estamos com 35. Quer dizer que 25 pessoas perderam o emprego do início da pandemia pra cá”, explicou Pasch. Agora, o foco do empresário é só o comércio de rua. Ele manterá cinco lojas abertas e pretende inaugurar mais duas nos próximos meses.

Para o superintendente da AloShopping, o movimento de debandada de lojistas de shoppings observado pela entidade exige uma mudança de postura urgente dos empreendedores. “Os shoppings estão abertos a negociação, mas eles negociam do jeito deles. Negociam durante o mês. Alguns fizeram acordos tendo com base o faturamento, outros pegaram a média do ano passado, uma confusão danada. O lojista precisa de segurança em relação ao futuro”, disse.

Procurados, os shoppings Del Rey e Minas Shopping não quiseram se pronunciar sobre as saídas de lojistas citadas com base no levantamento da AloShopping e nem comentar o que têm feito para minimizar os efeitos da pandemia para os lojistas neste momento de perda de vendas. O Estado de Minas não conseguiu contato com o BH Shopping até o fechamento desta edição.

Na Loja Cila, de produtos para piscina, praia, e esportivos, que fechou as portas depois de 22 anos de atuação no BH Shopping, oito pessoas perderam emprego. A empresária de peças de moda/praia Cila Borges, de 67 anos, conta que no início da pandemia decidiu entregar a loja. “Naquela primeira semana eu pensei: ‘Quer saber? Vou sair do shopping. Já era uma coisa que eu estava pensando. A loja não me dava prejuízo, dava até um lucro. Mas é muito aborrecimento. Punha na balança e não valia a pena”, comentou. Ela atua há mais de 46 anos no ramo.

Segundo Cila Borges, a loja era pequena e o custo com aluguel alcançava R$ 26 mil. Como o funcionamento em shopping exige dois turnos de jornada de funcionários, requer equipe maior de vendas. “Você não consegue manter uma loja no shopping, com oito funcionários, com menos de R$ 60 mil”, explicou. Essa contabilidade explica porque ela preferiu arcar com os custos da quebra de contrato a conviver com a incerteza de uma reabertura. Para compensar as perdas com o fechamento, decidiu investir na venda on-line.

Novo perfil

O anúncio da reabertura gradual do comércio, iniciada em 12 de agosto, não foi suficiente para trazer alívio no caixa para lojistas que permanecem nos shoppings. “Tem setores que estão vendendo melhor. Cama, mesa e banho estão vendendo bem. Pra você ver o comportamento do consumidor está assim porque gostou de casa. Agora, vestuário está vendendo muito mal. Reflexo do isolamento social”, afirma Alexandre França, da AloShopping.

Ele acredita que o momento impõe muitas mudanças e isso refletiu também no comportamento do consumidor. “Uma pesquisa da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) diz que a média de permanência do consumidor no shopping, em um cenário normal, é de 79 minutos. Neste momento, a média de 21 minutos”, comentou.

Além disso, as restrições de horário e redução no número de pessoas dentro das lojas e centros comerciais têm sido desafiadoras. “Nós já estamos vendo que as vendas do setor terão queda de 50% a 60%. No mínimo 25% de retração, em relação ao ano anterior, no Natal. Os lojistas não conseguem se sustentar com os mesmos custos do ano anterior”, disse.

Nas ruas, comércio cortou 20 mil vagas

Prejuízos acumulados, fechamento de lojas e perdas de postos de trabalho não são realidade só dos comerciantes abrigados em shopping centers. Quem trabalha no comércio de rua na capital mineira também tem sofrido os impactos da pandemia. Segundo estimativa do Sindicato de Lojistas de Belo Horizonte (Sindilojas-BH), ao longo dos cinco meses nos quais o comércio de produtos e serviços não essenciais permaneceu fechado, cerca de sete mil dos 35 mil estabelecimentos comerciais da capital, fecharam as portas. Cerca de 20 mil empregos foram eliminados.

“E este não é um número real. O cara está tão apertado e devendo que ele não dá baixa na Junta Comercial (Junta Comercial de Minas Gerais). Então, nós não temos o controle. Daí, a estimativa”, explicou Nadim Donato, presidente do Sindilojas-BH.

Se o número até o momento já assusta, a associação ainda prevê um cenário mais amargo para os próximos meses. “Aquele lojista que ainda conseguiu mesmo sem renda se manter até aqui, não deve conseguir sobreviver até o fim do ano. A maioria vai fechar”, lamentou Donato. Ele explica que as previsões nada otimistas têm seus motivos. “Primeiro, que já vêm sufocados. Segundo, as vendas estão ainda no nível de 40% do valor normal. Isso não paga conta. Outra coisa que vai incidir agora é o IPTU (Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana). Como que lojista vai pagar IPTU? Não tem dinheiro”. (MIP)

Saldo negativo Brasil afora

Estudo realizado pela Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indicou o fechamento de 16,1 mil lojas em Minas Gerais (foto) entre abril e junho deste ano, período em que vigorou o fechamento das atividades econômicas não essenciais para conter a disseminação do novo coronavírus. Dada à crise, considerada de proporções inéditas pela entidade, no Brasil 135,2 mil pontos de vendas deixaram de atuar.

O saldo negativo superou a perda de estabelecimentos comerciais em todo o ano de 2016, que foi de 105,mil unidades. Minas ficou na segunda posição, depois de São Paulo, entre os estados mais afetados pelas perdas do comércio. De acordo com a CNC, entre os segmentos do comércio que se ressentiram das turbulências sanitária e econômicas, houve destaque para lojas de utilidades domésticas, vestuário, tecidos, calçados e acessórios e produtos automotivos.

Com a reabertura do comércio em vários estados, a expansão das vendas digitais e o crescimento do varejo eletrônico, segundo a confederação, a recuperação do setor tem surpreendido. Outros dois fatores positivos estão na concessão do auxílio emergencial e na oferta de crédito às empresas.

Com informações Estados de Minas

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