União Europeia planeja ofensiva diplomática na América Latina para combater influência de Rússia e China
Documento vazado para o jornal espanhol El Pais descreve a ansiedade da UE sobre o declínio da credibilidade na região
Bruxelas vê sua influência diminuindo na América Latina e se prepara para intensificar a diplomacia e as relações econômicas em 2023, de acordo com documentos da UE revelados pelo jornal espanhol El Pais na quinta-feira.
O texto vazado, composto pelo Serviço de Ação Externa da União Europeia (SEAE), alerta simultaneamente que os 33 países da América Latina e do Caribe estão cada vez mais sob o domínio dos interesses econômicos de Pequim e da influência política de Moscou.
Enquanto a UE se concentrou mais em países vizinhos como Líbia, Síria e Ucrânia na última década, a China aumentou seus investimentos na América Latina 26 vezes entre 2000 e 2020, segundo o documento. Da mesma forma, 21 países da região assinaram a Iniciativa do Cinturão e Rota da China.
Enquanto isso, as objeções de alguns estados da UE paralisaram o enorme acordo de livre comércio UE-Mercosul, assim como as atualizações pendentes dos acordos comerciais com o México e o Chile.
Isso, em parte, permitiu que a China ultrapassasse a UE (e, em alguns casos, os EUA) em termos de comércio em muitos países latino-americanos.
É importante ressaltar que a América Latina também abriga a maioria dos depósitos de lítio conhecidos do mundo, bem como grandes depósitos de petróleo e gás natural, aponta o texto.
Enquanto isso, a guerra na Ucrânia destacou uma mudança para Moscou e para longe do Ocidente em muitos estados. A influência da Rússia na opinião popular também está aumentando.
Embora os países latino-americanos estivessem mais alinhados com o Ocidente nas votações da ONU condenando a guerra russa, na última Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, em abril, a delegação europeia não conseguiu aprovar uma condenação de Moscou, mesmo usando a mesma linguagem da Declaração da ONU.
Enquanto isso, o relatório também observou uma tendência de novos líderes “antiestablishment” que podem estar mais abertos a se afastar de alianças tradicionais, como os novos líderes no Peru, Chile, Honduras, Costa Rica e Colômbia.
A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva nas próximas eleições brasileiras só solidificaria essa “notável transição” da direita para a esquerda, segundo o documento.
Ao mesmo tempo, a UE vê um risco de instabilidade política no continente devido às consequências econômicas do COVID-19 e do aumento dos preços das commodities atribuídos à guerra na Ucrânia.
É por isso que Bruxelas, sob a liderança de Josep Borrell, quer aproveitar a situação atual para impulsionar a diplomacia e aplicar seus fundos dedicados à América Latina “estrategicamente e com o máximo impacto”. Segundo o relatório, a UE está estudando um pacote para 2023 que poderia mobilizar até € 8 bilhões (US$ 8,14 bilhões) de investimentos europeus na América Latina.
“A credibilidade, o poder e a influência da UE no cenário internacional estão em jogo”, alertou o relatório do SEAE.